Por: Maria da Graça Borges de Matos
Fui a seu tempo abordado por uma minha distinta e respeitável conterrânea de que Barroso da Fonte a tinha alertado ter em mente actualizar o “Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses”. Ao mesmo tempo que me pediu fornece-se alguns dados biográficos meus, pois fazia gosto em os coordenar e enviar ao autor do respectivo Dicionário. Assim procedi e nunca mais me lembrei de tal assunto. Foi por isso que na passada Sexta-feira, dia 26, fiquei surpreendido com um e-maill dessa minha prezada amiga, onde me fazia constar: “Olá amigo! Dei com este documento(sua biografia), e não sei se enviei isto p/ os Dicionários Transmontanos ou não. Acho que teria enviado para B.Fonte, mas não tenho a certeza. Mesmo assim, fica aí o documento também consigo, por segurança. Não vá ser preciso e eu já não me lembrava disto... “ . - Tal como ela, também eu.
Desta senhora não se pode perder nada, pois das mulheres transmontanas não há quem a vença na promoção de tudo quanto seja terra e gente de Além Marão afecta às artes e ás letras, e a quanto tenha a ver com a cultura lusitana. Ela é das maiores e sempre no anonimato. Para já o que de mim engendrou, e eu agradeço, vou transcrever: “Como no IIº volume do “Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses”, já se fez constar Costa Pereira é um ferrenho regionalista amigo da sua terra e região que defende e divulga com fervor à mais de meio século, ora na comunicação social, ora nos ambientes que frequenta e se proporcione falar de terras e gente do norte. Amigo de viajar e muito viajado, tem pela vertente histórica e biográfica uma especial atracção de que resulta fazer dessas viagens a radiografia monográfica dos sítios por onde passa. Assim aconteceu com visitas que já fez aos Açores, Madeira, Angola, Moçambique, França, Itália, Jerusalém e outros lugares que descreveu em páginas de jornal - já agora, acrescento eu, a que fiz a Bona (Alemanha) no ultimo mês de Setembro - , e mais recentemente, após aposentação, usando da tecnologia virtual em blogs da Sapo que subordinados ao titulo “aquimetem” ele alimenta, e verte também em páginas semelhantes, como Tempo Caminhado, NetBila, quando não, no jornal O Povo de Basto e A Voz de Trás-os-Montes que são ultimamente os jornais onde com mais assiduidade colabora. Amigo da liberdade responsável, em busca dela, o Costa Pereira cedo dobrou as cumeadas do Marão e da Lameira, primeiro para Vila Real, onde confiado no apoio paternal deixou a “bacia de prata formada pelo Marão”, para do outro lado da serra aprender a profissão que por respeito a quem lhe facilitou aprendizagem nunca trocou por outra. Muito jovem, inicia a sua caminhada e, a pulso seu, alcança, feliz, a confortável situação de todo aquele cidadão que vê cumprida a tarefa de fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Mas nunca acomodado. Após trabalhar em diversas terras nortenhas, nos finais de 1962, este trasmontano de Basto chega a Lisboa, agora definitivamente disposto a trocar a magia do Tâmega e do Rio Cabril, pela opulência de um Tejo quase a entrar na foz. Levou como ferramenta e carta de apresentação, a arte de barbeiro, a de iniciado na arte de ilusionar os sentidos e a de publicista regional, que não tardou lhe granjeassem no bairro (Santa Maria de Belém) a fama de “mestre dos três ofícios”: barbeiro, ilusionista e jornalista. Nestes ofícios se consagrou, conquistando amizades nos mais diversos sectores da sociedade. Conheceu terras, onde trabalhou, actuou em salões e palcos prestigiados, como Coliseu dos Recreios, Casino Estoril e da Figueira da Foz, Club os Fenianos do Porto, São Luiz Teatro, e colaborou em muitos órgãos de informação. A par disso também nos meios recreativos e associativos a que esteve ligado se distinguiu quer como membro directivo, quer como promotor de festas e convívios regionais. Da sua odisseia de viagem, cantou:
“Rodando desci do monte (Farinha)/ Para a ponte (de Mondim) atravessar/ No caminho tanta ponte/ Que me perdi no contar/. Vim parar à capital (Lisboa) /, Deste país de navegantes/, Onde no “Restelo” doutrora/ Os mesmos “Velhos” d’agora/, Continuam triunfantes”.
Não é exagero dizer que se trata de um dos mais destacados e dinâmicos divulgadores do concelho de Mondim, que se notabilizou e ficou conhecido em toda a região de Basto, quando, na década de 60, ferido no seu amor à terra-berço, por três artigos publicados no diário A Voz, de Lisboa, nos números 5, 9 e 12 de Setembro de 1965, vem a terreiro rebater, no Noticias de Basto, a tese do seu autor. Ao mesmo tempo que arranja modo de conquistar a generosidade de um jurista seu amigo, Dr. Primo Casal Pelayo, que pôs os pontos nos “ii” , clarificando a situação do Santuário de Nossa Senhora da Graça. Que por justiça é confiado em definitivo a São Pedro de Vilar de Ferreiros. Cristão convicto, com particular devoção a São Josemaria Escrivá; cultor de amigos e amizades, que tem em todas classes sociais; jamais se serviu delas em proveito próprio, até mesmo nos jornais nunca escreveu para agradar aos amigos, mas sim dizer o que a sua consciência lhe dita. Além de colaborador da Imprensa, com mais de meio século de tarimba, Costa Pereira é autor de “As Ferrarias entre Tâmega e Douro” (esgotado) , “Vilar de Ferreiros – Na História, no Espaço e na Etnografia” (esgotado) e recentemente, Fevereiro de 2014, com a chancela da Chiado Editora publicou “Nossa Senhora da Graça – Na Fé dos Mareantes”, onde constam todas as paróquias desde o Minho aos Açores, consagradas a NS da Graça, além do mais”.