
Nascente do rio Tâmega, na serra de São Mamede ( Espanha)
Ultimamente tem sido muito badalado na impressa que a barragem do Fridão está mesmo para arrancar como praga das águas do Tâmega, e destruição da paisagem natural da sedutora região de Basto. Do que penso acerca desse monstro aquoso que por ambição de uns tantos, se permite deixar construir, empobrecendo o património local com um charco de água estagnada que vai alterar todo o sistema ecológico já disse o suficiente. No entanto não deixo de estar atento, e interessado no acompanhar o evoluir desta situação gerada por outros valores que não são os de quem ama a terra onde nasceu. E por isso também atento a ver quem são os mondinenses que como eu amam a sua terra e admiram o que de belo ela tem para oferecer aos nascidos lá, e aos visitantes que sabem apreciar as belezas com que Deus dotou locais privilegiados como Mondim de Basto. Numa das primeiras ocasiões em que abordei este assunto foi despertado pelo blog “Serra e Sonho” de Maria Elísia Ramos, uma ribeira-penense que, ao tempo, comentava: “ O Tâmega que nasce no Maciço Central galego, perto de Albergaria (Vilar de Bárrio/ Laza), entra em Portugal pela fronteira de Chaves, e desagua no rio Douro, em Entre-os-Rios. Aqui, com a barragem do Torrão, se fez o primeiro atentado ao rio, o que levou que por ocasião da catástrofe da ponte muitos atribuíssem o desastre às descargas dessa barragem”. Logo pensei para comigo: tens razão, mas o dinheiro tem muita força e o nosso povo é sereno.

Não me enganei, as reuniões de gabinete surgem e as decisões guisadas saem dali empacotadas para impingir ao pagode como definitivas. Mas convém ter presente que o povo é sereno, mas não alheio ao que se passa à sua volta e com mais ou menos impulsão no momento azado responde, sem precisar de levantar a voz. Muitos são os que ainda se revelam defensores declarados do património natural do seu torrão-natal; a esses presto a minha homenagem, como também a todos que não sendo nossos conterrâneos sabem reconhecer e louvar aqueles que se preocupam em o defender. E não carecemos de consultar arquivos empastados, na obra que Luís Jales de Oliveira consagrou ao Tâmega, sob o titulo “Corre-me um Rio no Peito”, e um dos filhos adoptivos da região descreve, em prefácio, o que conhece e reconhece no consagrado autor mondinense. Mas nada como pegar no texto que o distinto médico e cronista de reconhecido mérito, Dr. José Alberto de Faria, plasmou no pórtico da obra: “ E vós Tágides minhas, pois criado... (Luís de Camões in "Os Lusíadas"- Canto I, estrofe 4).
Que pretensão a minha a de invocar o maior poeta português para falar de Luís Jales de Oliveira, um poeta Tamecano, como o próprio se intitula.
Este meu intento não é gratuito mas antes uma tentativa, se calhar vã, de informar o mundo de que todos os poetas têm as suas musas, (que podem até não ser as filhas dos deuses Gregos Mnemosine e Zeus criadas para cantarem a vitória dos deuses de Olimpo sobre os Titãs filhos de Urano ...).
Luís Oliveira tem nas Tamegides as suas musas inspiradoras que percorrem o rio Tâmega desde a sua origem em terras Galegas, até à sua foz no rio Dourado, particularmente insinuantes nas Terras de Basto, deliciando-se a conversar com os Deuses do Monte Farinha, onde Luís Oliveira também procura o seu apoio e inspiração. A estes já o narrador poeta dedicou uma obra, à qual deu o nome de "Os Segredos da Pirâmide Verde" .
Na presente obra "Corre-me um Rio no Peito" , uma compilação de citações ao Rio e ao seu poder, nota-se a inspiração constante na turbulência do rio enraivecido pelas musas zangadas em dias de invernia ... dificuldades e dos remoinhos traiçoeiros ... e a suavidade de espelho de água em lira de Erato em dias calmos de Verão ... fui suavemente embalado pelo cântico do rio...
Talvez por saber que o Rio me "obrigou" a ficar por estas terras, ... pescadores de bogas modernizados... também o poeta e Amigo me "obrigou" a falar desta sua obra. Difícil não é, mas sim impossível, já que se trata de um grito lancinante contra a transformação de águas doces e cristalinas ... água viva, liquido amniótico, plasma espesso e visceral...numa sopa verde e quente de algas desenvolvidas pela matéria orgânica.
Alterar o curso natural do rio Tâmega,... nas covinhas dos calhaus, na ebulição dos cachões...é para Luís Oliveira, o acabar com as origens, o fim do poeta, a destruição e morte das suas fontes de inspiração.
O poeta, de isso me dá conta, continuará a lutar de caneta na mão contra o conformismo e protegerá as suas musas até que a mão lhe doa.
Que Tamóbrigo te ajude”. Com este post quero prestar a minha homenagem a um insigne mondinense que ama, como os que amam de verdade, a sua terra, e aproveito para repudiar o que de intruso venha destruir o que de mais belo tem a região de Basto: o seu Património Paisagístico!