Neste blog, vou passar fazer todo aquele trabalho que habitualmente tenho vindo a distribuir por vários blogs. Dar descanso aos velhos....

09
Jan 15

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          Fernão de Magalhães Gonçalves é uma figura que vai ficar no panteão dos escritores e poetas transmontanos mais famosos. Nasceu em Jou (Murça) a 06 de Janeiro de 1943 e faleceu em Seul (Coreia do Sul) a 08 de Junho de 1988. Poeta, escritor, investigador e ensaísta, esta credenciado homem de letras iniciou a sua carreira com o pseudónimo de Fernando Gil no Diário de Lisboa e na Republica. Depois de passar pelo Seminário dos Franciscanos em Braga, Leiria e Lisboa, e de ter concluído que não tinha vocação sacerdotal. Sem perder a fé, mas antes a reforçar com doutrina e formação cultural, Fernão Magalhães Gonçalves desce ao encontro do que outros similares seus têm de engenho e arte para fazer reluzir com ele o que de belo a poesia tem para dar brilho à humanidade. Os valores morais e cívicos que herdou na cepa mantiveram-se e frutificaram com escritos à volta de humanistas e democratas como Hemingway, Aznavour, Francisco de Assis, Nuno de Montemor, Aquilino Ribeiro, e os nossos Trindade Coelho, Guerra Junqueiro, Miguel Torga e João de Araújo Correia. Uma vez abandonado o seminário, o dever militar entra em acção, e a guerra no Ultramar exige dele a sua intervenção que vai cumprir em Angola, na qualidade de oficial mil.º de Transmissões. No regresso matriculou-se na Faculdade de Letras do Porto, onde se licenciou em História. Concluída a sua formatura entrou na actividade do professorado, que iniciou em Murça; depois Vouzela, Porto e Chaves. Aqui se manteve por uma dezena de anos. leccionando nas escolas Fernando de Magalhães e Dr. Júlio Martins. Em 1983 é nomeado leitor de Português na Universidade de Granada (Espanha), onde se mantém até 1987.

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          Daqui é transferido para Seul (capital da Coreia do Sul) para exercer as mesmas funções na universidade local, e um ano depois em plena rua tombou deixando o nome de Portugal prestigiado e os transmontanos afamados. Hoje o seu nome é realçado graças a um Prémio de Poesia anual que sei instituído pelas Câmaras Municipais de Murça e Chaves, e criada uma pequena Editora (Tartaruga) que tem procurado dar a conhecer muitos dos nossos autores contemporâneos. À Drª. Manuela Morais que foi sua esposa e dinamizadora do prémio em causa, saúdo; e a quem me despertou para fazer esta memoria, agradeço. Não vou revelar o nome de quem foi, mas em letra garrafal lembro a razão e forma como foi feito, e o que pedia fosse noticiado. Sai hoje com a minha introdução:

OLÁ! ERA PORQUE FAZIA ANOS ONTEM!! OBRIGADA:ESPERO QUE TENHA CHEGADO BEM:::E QUE SUA ESPOSA ESTEJA MELHOR!!

Fernão de Magalhães Gonçalves, poeta, escritor, investigador e ensaísta, nasceu em Jou (Murça) a 6 de Janeiro de 1943 .

Leccionou em Murça, Vouzela, Porto, Chaves e nas Universidades de Granada (Espanha) e Seoul (Coreia do Sul).

Autor de uma quinzena de livros publicados e alguns outros ainda inéditos...

 (Excerto)

... Sidónia, 15 de Janeiro .

" Escrevo, escrevo tudo o que penso. Por um infinito respeito para comigo próprio, para com cada momento que vivo e cada intuição ou ideia que me assalta. Aterroriza-me que um só cabelo da minha cabeça se dissipe, perdido para sempre.

Tudo fica longe do Convento de Sidónia. Tudo o que aqui acontece, aqui fica e se evapora, mastigado por esta desolação cósmica que rói os homens até ao tutano. É verdade que nós, os frades menores, somos os benjamins do Senhor. Mas isso é um prémio de convicção. O meu pai continua a dizer-me: segue as minhas recomendações, firma as tuas convicções para poderes agradar aos Superiores e seguir o teu destino. Mas eu não me sinto ligado a qualquer espécie de convicção. Penso que o meu destino parte de outras convicções, por isso. Só dentro do seu destino pode cada um firmar e criar a sua liberdade. Esta leva sempre à eleição das suas normas. Sem lei nenhuma, luto contra o tempo. Mais nada. Não sei onde vou, não sei de onde venho. O Padre Mestre quase duas horas com a perfeição interior, com a perfeição interior... Mas, só para a adquirir, se perde todo o esforço dentro do indivíduo. E continuamos infelizes uns com os outros".

(...)

IN ASSINALADOS

 

publicado por aquimetem, Falar disto e daquilo às 14:48
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4 comentários:
"ainda não aprenderam
os meus olhos
a verem-te
como és
mas apenas como te vejo"
anon. a 9 de Janeiro de 2015 às 16:28

FRANCISCO DE ASSIS

Há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
com palavras tuas me ensinaram
desde o berço
o nome da liberdade e o do pão
o nome da fome do fogo e o do vento
assim começou a minha história
fui a carne da tua memória
e da tua lição

por ti
grandes e pequenos escravos e
senhores
máscaras do rosto comum de
toda a gente
rimavam
com os sinais interiores
que na minha mente
acordavam
a luz do sol a cor da água o lume das flores

por ti
morena ao sol de Abril
sangrou uma flor na pedra do meu punho
em teu nome se fizeram minhas
as tuas chagas impressas

(eram a liberdade e o seu testemunho
que ateavam a centelha
da igualdade vermelha
do sangue vasculado de promessas)

há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
a liberdade já não está onde estão
as flores
onde estão os pobres
onde está o vento
madrugada de um momento
sonho escrito e apagado
neste tempo quadrado
a fraternidade da tua
lição
morreu dentro dos homens
sua única vontade
sua última prisão.

In Memória Imperfeita - Fernão de Magalhães Gonçalves
Anónimo a 4 de Outubro de 2016 às 11:58

Coimbra, 13 de Junho de 1988
__ O telefone tocou, e mal eu imaginava que era um dobre a finados. Que nenhuma memória preencheria no futuro o vazio que me ia ser anunciado. De olhos marejados, contemplo agora o Letes de silêncio que nos separa. Ele ainda a dar os primeiros passos literários, mas já dono de uma personalidade poderosamente marcada pelo selo da autenticidade, aproximou-nos o seu dom de se dar sem reservas. E nenhum laço aperta tanto almas irmãs como a evidência da sinceridade. Os deuses é que não cuidam de acasos felizes. E levaram-no na flor dos anos, ou para confirmarem o aforismo de Plauto, porque o amavam, ou cruelmente para desmerecerem as leis do afecto e tornarem mais absurdo o absurdo.


Jou, Murça, 14 de Junho de 1988
__ É terrível, a morte. Tira sentido às palavras, aos gestos, às lágrimas, ao silêncio. Deixa a vida sem expressão.

Miguel Torga

In Diário XV

(A Fernão de Magalhães Gonçalves)
Anónimo a 4 de Janeiro de 2017 às 11:03

6 DE JANEIRO DE 2018 - FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES -MURÇA -JOU

A CHUVA

um poema longo e constante como a aspersão da chuva

por montanhas e planícies descem os pinhais até ao mar
sobre eles sinto roçar o manto do prometido deus
das nuvens enroladas pelo vento de cabelos soltos
um poema que desça até à asfixia da memória
uma retirada clandestina de palavras sem destino e sem credo
um poema desta desolação cinzenta e circular
diagonal à minha angústia que não engane
as lágrimas que o prometem

e que chova
e a terra se abra e as paredes se lavem
e a torrente divida
a lisa adivinha do meu íntimo regresso

um poema mais largo que a folha azul do processo
um rego de tinta que nenhuma pena comporte que
nenhuma palavra endireite e vá encharcar
as tiras dos poetas inspirados

um poema de chuva que nos arredonde os olhos madrugadores
e onde cada verso se levede e informe
eu peço à chuva um poema violento como o vento que a trouxe
um poema gelado derramado pelas rugas e dobras do meu corpo
chova um poema nas palmas das minhas mãos e elas o amparem

como a planície ampara a chuva com a sua boca sôfrega de areia
um poema que traga do fundo da nossa revolta evaporada
o encontro que nos devolva à madrugada de um dia perfeito
um poema onde chova toda a saudade que nos prende os braços
à memória dos destinos repetidos

um poema aspergido com urgência que nos sacuda das mãos
os gestos rituais
um poema natural e inevitável que detenha à porta quem o ler
e se anuncie nas nuvens e na fuga dos pássaros e sobre os horizontes

chova um poema de chuva
um poema sem poeta
e entenda-o quem ensinou às andorinhas o seu caminho de inverno
um poema inoportuno
que tenha de ser ouvido por todos até ao fim
que nos suponha como o chão que bebe a chuva
um poema maligno e irrestricto
praga do Egipto
sem profeta que o vá vender
e um faraó descalço e coroado
em nome de um deus vivo e inventado

eu peço à chuva um poema de chuva
eu quero ser chuva e transformar-me
em todas as coisas evaporadas
enroladas
pelos cabelos do vento

e se devolva à terra o seu perfume
e à servidão humana o seu desejo

In Andamento
Anónimo a 5 de Janeiro de 2018 às 17:09

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