Já que não celebramos no dia 24 de Junho aquela que foi a «Primeira Tarde Portuguesa», celebremos, ao menos, no dia certo, - 25 de Julho, - a data do nascimento de Afonso Henriques.
Vou explicar isto bem para ver se alguns leitores menos esclarecidos não baralham o simbolismo histórico de Portugal e de quem fez dele um Império de quase 900 anos.
Portugal, como país independente, resultou da vitória na Batalha de S. Mamede que teve lugar no dia 24 de Junho de 1128. Completou, portanto, 887 anos no dia 24 do mês findo.
Em Portugal foi feriado nalgumas vilas e cidades, por ser dia de S. João. Só Guimarães o guardou por representar o Dia UM de Portugal. Que pena trocar uma festinha popular pelos anos da Pátria!
Recentemente o governo mexeu nos feriados e dias santos. E acabou com alguns, nomeadamente com o dia 1º de Dezembro, alusivo à Restauração de Portugal, em 1640. Ora apenas se restaura algo que já existiu, que nos foi útil, que fez ou faz parte da história de povos, de instituições, de comunidades. Quando se deu a restauração, já Portugal existia há 512 anos. Por isso é uma data sugestiva mas nunca para celebrar o seu nascimento. Isto é tão óbvio que «branco é galinha o põe».
Nunca as cabeças pensantes deste país tiveram força moral bastante para fixar as datas fundamentais de Portugal. Heróis para umas coisas, bacocos para outras!
O deputado Ribeiro e Castro, do CDS/ PP, empenhou-se em «salvar» pelo menos, o dia 1 de Dezembro. E como essa proposta pretendia honrar o legítimo nacionalismo, obteve os votos favoráveis para ficar na História da cronologia Portuguesa. Associo-me a essa recuperação, sem perder de vista que ambos os feriados se justificam. Mas, perante o dilema: entre o 24 de Junho e o 1º de Dezembro, é evidente que opto pelo primeiro. Se foi essa a «Primeira tarde Portuguesa» como a Academia consagrou, qual o motivo por que há-de aceitar-se uma data secundária, de um país que tem 887 e não 375 anos? Chamar dia de Portugal ao dia 1 de Dezembro de 1640, é desprezar 512 anos da existência de História, nomeadamente das muitas e decisivas batalhas: S. Mamede, Ourique, Arcos de Valdevez, Aljubarrota, Tomada de Ceuta, descoberta do Brasil, da Índia e da África.
Podem alegar alguns mercantilistas da história que Portugal deveria contar apenas depois da consolidação e expansão da presença portuguesa em terras brasileiras na centúria de Setecentos. «Nessa altura levantou problemas a definição fronteiriça com a área de influência espanhola no continente sul americano, uma vez que os limites impostos pelo velho Tratado de Tordesilhas (linha meridiana situada a 370 léguas a oeste de Cabo Verde) já não se adequavam às novas realidades de ocupação do território. Esta situação, potencialmente perigosa e geradora de conflitos entre as potências ibéricas conduziu à necessidade de negociações com Espanha, por forma a alterar esse limite. O resultado dessas negociações viria a dar origem ao denominado Tratado de Madrid, também conhecido por Tratado dos Limites, assinado em 1750. Do lado português as negociações foram conduzidas por Alexandre de Gusmão que conseguiu a alteração dos limites impostos em Tordesilhas em troca da cedência à Espanha da colónia de Sacramento, na margem esquerda do rio da Prata, ficando assim estabelecidas, nas suas linhas essenciais, as atuais fronteiras do Brasil. Outros apelam à batalha de Aljubarrota».
Em 1990 ergueu-se em Viseu a voz de A. de Almeida Fernandes, de que o nosso I rei nascera naquela cidade, em 5 de Agosto de 1109, para o que negou a existência do segundo Condado Portucalense, heresia maior do que a Serra da Estrela e que foi adotada pelo seu genro e seus alunos da Universidade Nova de Lisboa. Desde 2009 empunhámos espadas que não foram precisas para derrotar esses contágios que chegaram à Presidente da Academia de História a ameaçar a troca de manuais escolares. Tanta leviandade, tanta estultícia e tanta subserviência, em gentalha que muda de ideias como quem muda de camisa.
É evidente que o segundo Condado Portucalense (1096-1128) existiu. Foi com o casamento dos pais que esse Condado foi devolvido, tal como tinha terminado na Batalha de Pedroso, em 1071, pelo pai de D. Teresa. E essa tontice de nascer em 5, 6 ou 15 de Agosto, em Viseu «pátria distrital do autor da teoria», foi uma deplorável demonstração de que alguns «estoriadores» do tempo do PREC, contaminaram a historiografia Portuguesa.
Ensinem os profissionais da educação, aquilo que aprenderam nas escolas purificadas pela tradição e pela dedução das provas. Quando remendos mal ajustados, pretendam viciar o que de mais transparente, mais intuitivo e mais racional, impõe-se que se evitem esses remendos, na História de um Povo com tão bela e grandiosa epopeia.
Fiquem os meus leitores descansados: Afonso Henriques nasceu em 25 de Julho, dia de Santiago, no preciso dia, mas do ano de 1139, em que ele venceu os cinco reis mouros, na Batalha de Ourique. Esta é uma certeza sobre o dia e o mês. Acerca do local e do ano as probabilidades são da ordem dos 99%: Guimarães: 1111.
Até hoje nenhuma prova, em contrário, foi descoberta. Mesmo que novos doutores daquela instituição insistam em propalar teses e mais teses que têm por base a famélica teoria, nada existe que possa contrariar a tradição.
É com esse argumento que um punhado de cidadãos descomprometidos com a política, com os malabarismos editoriais e nacionalismos saloios, desde o ano 2011, assinala em Guimarães, de 24 para 25 de julho esta efeméride.
Barroso da Fonte